“Rubato” – Hipoglote de 23 de Nov. 2020

Nesta emissão de Hipoglote, Tiago Schwäbl apresenta-nos narrativas, parábolas, ensaios, com vozes e línguas diferentes. Interrompem, suspendem e alteram-se músicas, vozes e vários pensamentos, muitas vezes dedicados ao tempo, à velocidade, à duração.

“Rubato” será originalmente o tempo musical roubado. Especularemos a quem será roubado. Talvez seja ao discurso do autor, feito de citações e regularmente interrompido.

Pode ser escutado aqui: https://www.rtp.pt/play/p6503/hipoglote 

 

Ouvir (poesia de) Apollinaire

Como nos informa o sítio France Culture, podemos ainda ouvir a voz do poeta Guillaume Apollinaire (falecido em 1918).

Escutemos o seu poema “Le Voyageur”, gravado em 1913, graças aos “Archives de la parole” da Bibliothèque nationale de France.

A voz do poeta, em salmodia, dizendo o poema viaja pelo ruído do registo.

Uma voz, várias vozes ou “O Essencial sobre Alberto Caeiro”

  1. Remediação/condensação

A série de podcasts “O Essencial Sobre…” parte da coleção homónima da editora Imprensa Nacional. Em pouco tempo (entre 10 e 20 min. em média) é-nos lida a descrição da vida e obra de determinado autor, que pode ser Miguel Torga, José Régio, Irene Lisboa, André Falcão de Resende ou Fernando Pessoa, entre outros.

É uma óbvia condensação do texto publicado, tanto na sua extensão como nos dados que são divulgados. Procura-se um certo biografismo, abdicando de linhas interpretativas ou críticas, que caracterizam (e bem) o projeto do livro, muitas vezes escrito por especialistas como no caso de Maria José de Lancastre acerca de Pessoa, no podcast em causa.

Não sabemos quem faz a condensação ou adaptação do livro para os sucessivos podcasts, ou seja, ignoramos quem selecionará o texto a ser dito (ou lido) daquele outro texto publicado antes em página impressa.

Das duas séries de programas, primeiro em difusão pela RTP/Antena 2  e, a seguir, somente no sítio da Imprensa Nacional (e por vezes no vimeo), noto que a substância será diferente, assim como a sua mediação. Na segunda série parece ser mais valorizado o teor ensaísta dos livros de base. Por outras palavras, não se assenta unicamente na descrição do percurso de vida como se ouvia nos programas anteriores. Sem cotejar os livros com os podcasts, permaneço incerto acerca desta intuição ainda que soem diferentes as duas séries, em substância textual e vocal. Proponho que vejamos um caso em que essa diferença e mediação nos evidencia algo de relevante.

2. “O Essencial Sobre Alberto Caeiro”

Alberto Caeiro é o tema do mais recente podcast, de 3 de Novembro de 2020.

A voz da nova série pertence a Tânia Pinto Ribeiro e informa – quase no fim dos 12 minutos e 30 segundos do podcast – que o programa “teve por base” o livro de Maria José de Lancastre, acerca de Fernando Pessoa. “Teve por base” é ainda a fórmula com que terminam estas sínteses radiofónicas dos vários títulos e nada distinguirá nesse guião este programa dos anteriores. No entanto, trata-se de um biografado inexistente, pois Alberto Caeiro, como sabemos, nunca existiu. Assim como nunca existiu “O Essencial Sobre Alberto Caeiro”, senão por via deste podcast.

Esta emissão parte de “O Essencial Sobre Fernando Pessoa”, daí particularizando Alberto Caeiro: o heterónimo terá sempre que ser visto em relação com Pessoa. O podcast extrai deste modo um autor de outro autor, um “Essencial” de outro “Essencial”. Falando de Fernando Pessoa dá voz a Caeiro.

Temos portanto uma mediação bem diferente. Pessoa já tivera direito a um programa anterior, com características (vocais e textuais) bastante diferentes, em género e multiplicação. A voz narradora era de João Almeida e a voz emprestada às citações foi de André Pinto (com realização da mesma Tânia Pinto Ribeiro).

Como falar de um autor que não existe? Como dar voz à biografia de uma personagem de ficção? Temos a descrição que faz dele a autora do livro (Maria José de Lancastre) com quem se confundirá a voz de Tânia Pinto Ribeiro. Poderíamos pensar que é a mesma pessoa, ao escutarmos. O tom é informativo, declarativo, a voz é clara no seu som e passiva no seu discurso. Todavia, altera-se em partes específicas, no que será uma citação, quando um eu está presente, implicado: o enunciado por Pessoa e por Caeiro. E como será vocalmente a citação acerca de Caeiro? Ouvimos a mesma voz, mas mais próxima, numa qualidade diferente de gravação, mais presente.

Não posso deixar de pensar que aqui convergem aspetos “essenciais” de Pessoa/Caeiro. É a mesma voz afinal, mas mais clara, próxima, presente. Num outro tempo de edição, registo, gravação. De algo que não existe, nem em livro inteiro, nem em biografia como a conhecemos, surge uma voz, mais perto de nós, mais clara.

Cita-se no programa a afirmação de Pessoa a Sá-Carneiro, de que teria aparecido diante de si o seu mestre ao escrever os primeiros poemas de Alberto Caeiro. Com a reserva que nos merece a auto-ficção das declarações de Pessoa, parece-me que este podcast revela e replica isso mesmo. Uma voz com outras vozes dentro, que “aparecem” ainda mais reais e próximas que a sua.

Não será precisamente isto o seu essencial?

Hipoglote de 16 de Nov. 2020 “Armas e linguagem”

Nesta emissão de Hipoglote, Tiago Schwäbl percorre guerras e pós-guerras. 

Apresenta-nos ora uma narrativa, ora ensaio, em colagem de sons, músicas, palavras, de músicas, poetas, filmes, depoimentos.

A realidade e ficção misturadas em várias línguas, idades e media, entre silêncios e a voz do próprio autor do programa.

 

Pode ser escutado aqui:

https://www.rtp.pt/play/p6503/hipoglote

 

Conferencias Arte Sonoro

Estão disponíveis online as Conferencias Arte Sonoro promovidas pelo projecto Ars Sonorus.

Conferencia:
“Conferencias posibles o imposibles”
José Iges[España]

Bajo el título genérico de Conferencias posibles o imposibles abordaré algunos temas que podrían dar lugar a interesantes conferencias en torno al arte sonoro…

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Make it Heard

Foi lançado no final do ano passado o selo fonográfico digital Berro, uma iniciativa do Núcleo de Pesquisas em Sonologia (NuSom) do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, coordenado pelo professor Fernando Iazzetta, com o objectivo de disponibilizar

Unheard noises, unlikely soundscapes, unknown musics, historical sounds. Berro is a Brazilian netlabel focused on music and sound you may not hear elsewhere.

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O sotaque dos afónicos

Dallas Intro Season 1 (1978)

O espetáculo começa com abertura bombástica em voz-off, preparando o carrossel narrativo – the plot! – que condensará uma série de temporadas televisivas numa só cena, num só fôlego. Uma gigantesca nota de dólar americano – oh, money money – forra todo o cenário , enquadrando uma longa mesa de toalha branca com copos e vários telefones cromados e, do lado direito…um mexicano que praticamente não se moverá durante toda a peça.

Entra em cena a família Ewing: Bobby! Jock! JR! Miss Ellie! Lucy! Pamela! Sue Ellen!! –, os homens de fatinho branco e chapéu à cowboy, de pistola na mão ou à cintura, na jactância prepotente que identificamos como texana, e as mulheres de vestido brilhante e fartas cabeleiras artificiais.

E depois começam a falar.

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Jaap Blonk: workshop + performance

© Poster by Rui Silva.

On May 20, 2019, the PhD Programme in Materialities of Literature will host the sound poet Jaap Blonk. Blonk will give a workshop about his creative practices at the School of Arts and Humanities, University of Coimbra, Sala Ferreira Lima, 4 pm (16h00).

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Traições à letra, Bruno Ministro

Apagões escritos

Veio a lume , no carbon copy da internet, mais uma obra de Bruno Ministro , uma inscrição que, de tão reiterada e queimada nas impressoras deste mundo, passou à condição de símbolo, agora reobservado e desmontado pela habitual postura zarolha do Autor, olhando de viés discursos retilíneos e claros, asséticos (embora não a ponto de o branco se confundir com o vazio). Em inglês – e “na América” –, como manda a lei, This page intentionally left blank (MINISTRO 2018b) pode ser adquirido numa plataforma online.

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