SJ Fowler no HIPOGLOTE

Steven J. Fowler apresenta um portfólio verdadeiramente impressionante, desde poesia a teatro, performance, fotografia, arte visual ou poesia sonora… sendo ainda responsável por uma dinâmica fora de série na divulgação, acolhimento e incentivo à colaboração entre artistas.

O pretexto inicial para a conversa com SJ Fowler partiu de uma referência de Clive Fencott à cena experimental londrina dos anos setenta e oitenta em torno do Writers Forum orientado por Bob Cobbing. 

Trinta anos e um Brexit depois, a situação mudou muito. De tudo isso e muito mais nos fala Steven Fowler, numa das mais refrescantes conversas dos últimos tempos:

A entrevista foi realizada por Tiago Schwäbl e Nuno Miguel Neves,numa triangulação Lisboa-Setúbal-Londres, via Skype, a 16 de Maio de 2018.

A gravação vai para o ar no programa HIPOGLOTE da Rádio Universidade de Coimbra, na noite de domingo para segunda, dia 18 de Junho de 2018, à meia-noite.

A não perder! 

Pessoa lê o Algoritmo

No próximo dia 13 de junho de 2018, pelas 16h00, no Anfiteatro V (FLUC, 6º piso), Nuno Meireles apresenta «Pessoa lê o Algoritmo: Performance de leitura por Pessoa ele-mesmo de 130 fragmentos do Arquivo LdoD selecionados maquinicamente». Esta leitura assinala os 130 anos de Fernando Pessoa (nascido a 13 de junho de 1888) e os 180 dias do Arquivo LdoD: Arquivo Digital Colaborativo do Livro do Desassossego (publicado a 14 de dezembro de 2017). A organização está a cargo do Programa de Doutoramento FCT em Materialidades da Literatura e do Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra.

Nuno Meireles é licenciado em Estudos Teatrais pela ESMAE-IP, docente no Curso de Teatro da ESAP e no Curso de Animação e Produção Artística da ESE-IPB. Estreou-se como ator na Expo 98 com o Teatro de Marionetas do Porto. Desde então, colaborou como ator com A Escola da Noite, Seiva Trupe e Teatro Maizum, entre outros. Estudou Biomecânica Teatral de Meyerhold com Gennadi Bogdanov e dirige o Teatro do Filósofo com o Parvo atado ao pé, de exploração de textos de Gil Vicente. Tem desenvolvido atividades de poesia dita, em especial de Fernando Pessoa, de quem encenou e recitou múltiplos textos, de “Tabacaria” à “Mensagem”. Destaca-se “125 poemas nos 125 anos de Fernando Pessoa”, maratona poética nas livrarias da cidade do Porto. Atualmente é estudante do Doutoramento FCT em Materialidades da Literatura da FLUC, procurando investigar a intermedialidade em Gil Vicente.

(a-)sincronias ao despique

Flora Détraz: Muyte Maker 

Quatro raparigas sentadas a quatro mesas, tampos no escuro, pernas reluzindo oito meias brancas em V. Ajeita-se o público, inverte-se a iluminação e o ângulo, agora circunflexo, dos braços às palmas das mãos nas bochechas. Na cabeça, ‘chapéus’ de fruta prolongando-se na trança de cabelo puxada por uma corrente ao alto das barras da iluminação, pendendo mais atrás em contrapesos sui generis: um martelo, um cutelo, uma foice e um saca-rolhas gigante.

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SOMOS O QUE ÉS: Leituras de Ana Hatherly

No dia 26 de maio de 2018, Américo Rodrigues e Fernando Aguiar, encontraram-se na Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, em Almada, para SOMOS O QUE ÉS, leituras de textos de Ana Hatherly.

O evento esteve integrado na exposição «Ana Hatherly – O Prodígio da Experiência», constituída por obras do Arquivo Fernando Aguiar, que se distribui por dois espaços distintos: a Galeria Municipal de Arte de Almada e a Casa da Cerca, que poderão ser visitados até ao dia 9 de setembro.

O Vox Media esteve presente e registou alguns momentos.

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O grasnar do esquecimento

Roda de público alinhado elipticamente ao longo da fronteira calçada-areia dos intra-muros do castelo de S. Jorge, outros pendurados nas ameias com vista além Tejo, tarde de verão novo amansando no chilrear expetante de arena cultural, um olho na chuva, outro na tenda roxa encostada à muralha. E eis que de lá sai um compacto de mulheres vestidas de negro (leg-ins, sapatos rasos, túnica de manga comprida) com lenços brancos na cabeça. 

O grupo pára a meio-trajeto, vão-se destacando uma a uma, lentamente, dispondo-se no centro da praça. As caras que se aproximam impressionam, terrivelmente sérias, lúgubres, linhas de rosto como facas, pele dourada, andar lento e frouxo marcando a fraqueza aparente das decanas — o coro das velhas. Ajustadas as posições no ovo central da praça, viradas em diferentes direções, aguardam.

Silêncio absoluto, tensão total.

 

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O eclipse da matéria

ou a insubstancialidade do metalogramo 

 

 

 

 

Um dos primeiros dispositivos mecânicos a emergir do escuro , logo depois de um coleóptero luminescente — o seu estojo (koleos) acionando um relé-pirilampo, a cremalheira esforçando as asas (pteron) em deslumbrante metamorfose da mecânica em natureza esvoaçante —, foi uma frase de arame, um arame-frase, um metalogramo.

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No dia 9 de Maio de 2018 a britânica Hannah Silva  lançou no café Oto em Londres o seu álbum de estreia com o título Talk in a bit.

Contribuíram ainda Julian Sartorius na percussão, Luca “Xelius” Martegani nos sintetizadores e Zeno Gabaglio no violoncelo de cinco cordas.

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O Som e o Corpo: Duas Partituras Paralelas

FLORA DÉTRAZ ou A Bailarina Com Voz

Luz encadeando o público, fundo preto raiado a entreluz que uma silhueta faz oscilar e entrechocar ao entrar, procuramos no escuro, emerge sentada uma figura de amarelo que nos fixa. Um contínuo som [canto multifónico] grave e a sua repartição em harmónicos situa-se/-nos — quase coincide — algures na rapariga sentada, mas ela permanece imóvel. Subitamente inclina o corpo e vira a face, como se ela própria escutasse, procurasse a fonte sonora; a garganta revela o ataque à nota fundamental, mas todo o rosto queda impassível. Esta cena é lenta, protocolar, como o exige a ritualidade musical. A nota acelera, a língua interfere em jogo oclusivo e alveolar,  e do corpo inclinado para a frente pinga um fio de saliva, a exteriorização líquida e aprumada do caos interior.

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IN-SONORA

A décima edição da Mostra de Arte Sonoro e Interativo volta a insuflar Madrid entre 5 e 25 de Março de 2018.
O Festival, sob a direção de Maite Camacho, convoca os habituais destaques, residências e oficinas a bafejar a seguinte proposta:
Vamos a experimentar las posibilidades de la escucha del futuro presente, micrófonos en huertos y jardines, instrumentos musicales a partir de objetos mundanos o herramientas complejas y vanguardistas. Loops modificados mediante programación algorítmica en directo, instalaciones reactivas, sonido analógico y digital, deconstruido y formateado,ondas electromagnéticas atravesando nuestros cuerpos, haciéndonos vibrar con sonidos que nos sobrevivirán desde el mañana, de la tierra a la máquina, del pasado al futuro de la Muestra de Arte Sonoro e Interactivo, IN-SONORA.

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“se o som escrevesse o próprio som” [1]

Vozes e vozes que murmuram, discutem, contradizem, sobre e contrapõem… SILÊNCIO!!
O autor presente-ausente desautorizado pelo feitiço da linguagem — é palavra? é som? —, pelas cascas de língua cuspidas em cascata — silêncio! Ahah! —, pelas caretas de um corpo-marionete torcido no gasganete — ah, que tosse! —, pelos rabiscos pixelizados e apagados de uma folha que já não é folha, mas superfície digital que nada fixa — ora dita, ora repete! —, pela projeção de letras que carimbam a silhueta azguimática — parlez-vous français? Ach nein…! — pelas palavras de balde, homúnculo dobrado a sete, vomitando palavras, roendo, torcendo, puxando anzóis de letras — isso escreve-se? isso lê-se? —, pelo linguarejar inquinado — cerco digital em surround —, pela provocação malandra daquele que, prometendo jogar com as regras, as subverte logo ao primeiro lance.

Itinerário do Sal foi apresentado no dia 16 de fevereiro de 2018 no Teatro da Trindade, no âmbito do Festival Antena 2.
Doze anos volvidos da sua estreia na Alemanha, este Itinerário não perdeu pitada do seu alcance, farolando percursos que, não obstante os desafios performáticos rasgados ao longo do século XX, a maioria de nós ainda não ousou trilhar.


Foto: Miguel Azguime, por Paula Azguime

[1] Manuel Portela, 16/02/2007, “A presença da ausência do autor tem um som”,  blog TAGV Coimbraapud Festival Antena 2, 2018