“se o som escrevesse o próprio som” [1]

Vozes e vozes que murmuram, discutem, contradizem, sobre e contrapõem… SILÊNCIO!!
O autor presente-ausente desautorizado pelo feitiço da linguagem — é palavra? é som? —, pelas cascas de língua cuspidas em cascata — silêncio! Ahah! —, pelas caretas de um corpo-marionete torcido no gasganete — ah, que tosse! —, pelos rabiscos pixelizados e apagados de uma folha que já não é folha, mas superfície digital que nada fixa — ora dita, ora repete! —, pela projeção de letras que carimbam a silhueta azguimática — parlez-vous français? Ach nein…! — pelas palavras de balde, homúnculo dobrado a sete, vomitando palavras, roendo, torcendo, puxando anzóis de letras — isso escreve-se? isso lê-se? —, pelo linguarejar inquinado — cerco digital em surround —, pela provocação malandra daquele que, prometendo jogar com as regras, as subverte logo ao primeiro lance.

Itinerário do Sal foi apresentado no dia 16 de fevereiro de 2018 no Teatro da Trindade, no âmbito do Festival Antena 2.
Doze anos volvidos da sua estreia na Alemanha, este Itinerário não perdeu pitada do seu alcance, farolando percursos que, não obstante os desafios performáticos rasgados ao longo do século XX, a maioria de nós ainda não ousou trilhar.


Foto: Miguel Azguime, por Paula Azguime

[1] Manuel Portela, 16/02/2007, “A presença da ausência do autor tem um som”,  blog TAGV Coimbraapud Festival Antena 2, 2018