Visual-Vocal: Oficina com Américo Rodrigues

visual vocal 1-2

“Il faut pulvériser notre langage usé — c’est-à-dire faire scintiller le mot” (Pierre Garnier )

Basta um breve mastigar de palavras e sons, qual ritual de feitiçaria ou golpes de tacão no país de Oz, e eis que se nos apresenta o vasto reino da poesia sonora. O Grande Américo dá o mote; a partir daí, sem grandes explicações, cada um solta ou tange as cordas vocais à sua maneira. A inibição desaparece lesta e a voz começa a saltitar por caminhos que emprestam nova expressão às lamúrias quotidianas.
Como seria o nosso dia-a-dia se ao falar entoássemos com as bochechas o ranger dos dentes e o bater dos lábios, o assobio da língua e o apertar da garganta? O potencial vocal absorve qualquer recurso normalmente aplicado noutras funções (beber, mastigar, etc.): aqui tudo é valência sonora.
Algo de inesperado e maravilhoso acontece: incríveis vozes de capacidades extravagantes emergem subitamente — que gozo seria um mundo comunicante em poesia sonora…!

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I was on that balcony again…

Imaginem uma viagem pelos Estados Unidos e Canadá a expensas da poesia sonora…

Impensável hoje. Concretizado nos anos oitenta – em 1982, mais precisamente.

Tiago Schwäbl e Nuno Miguel Neves à conversa com Clive Fencott acerca da sua tour de 82 com Bob Cobbing.
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(manu)(voce)(post)scriptum

Als das Kind, Kind war…

Homero senta-se, cansado, após ter subido uns poucos degraus. Os anjos passam por ele, ignorando-o. Colocam-se estrategicamente nas mesas ocupadas. Abraçam ao de leve os leitores. Outros encostam-se à balaustrada inclinando o pescoço. Algo se prepara. Candeeiros de latão repetem uma luz amarela. A imagem ampla sobe até aos altos tetos da estrutura. Ouve-se um murmúrio crescente. Começa a cena da Biblioteca.

Estudiosos de várias nacionalidades concentram-se, em silêncio, absorvidos pela leitura. Mas nós e os anjos ouvimos o marulhar incessante. Uma mescla de vozes – as vozes interiores dos leitores em silêncio na biblioteca de Berlin – expõe de forma invertida o silêncio da leitura que é hoje apanágio de qualquer biblioteca. Nem sempre foi assim: na Alta Idade Média blocos murmurantes envolviam os letrados, desfiando longos textos de memória. Hoje, fragmentos manuscritos asseguram essa construção histórica – só os anjos sabem efetivamente o que se passava nas salas dos escribas.

bibliothek 3

PLAY: Jürgen Knieper. 1987. Die Kathedrale der Bücher. Banda sonora para o filme Der Himmel Über Berlin / Wings of Desire de Wim Wenders:

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Conversas do Éter na Universidade de Aveiro

Ocorreu no passado dia 4 de Março de 2017 a terceira edição de Conversas do Éter, encontro de radioamadores e investigadores que visa a partilha e complementaridade entre conhecimento teórico e experiência no terreno.

Conversas do Éter 1
O Congresso foi organizado por Jorge Ruivo e Nicolas Neto, coordenadores do Núcleo de Radioamadores da Associação de Electrónica, Telecomunicações e Telemática da Universidade de Aveiro (NRAETTUA) e contou com Nuno Carvalho, Douglas Maggs e Luis Cupido como principais oradores.

«Um congresso dirigido a todos os amantes de rádio comunicações, que pretende pôr frente a frente investigadores científicos/académicos e radioamadores.
Esperam-se discussões de elevado interesse às ciências radioelétricas. »

Som & flama

Na cave do Departamento de Física da UC estão guardados alguns instrumentos de medição (acústica, optométrica, gasométrica, eletromagnética…) encomendados pela Universidade – a sua maioria nos séculos XVIII e XIX – a partir de catálogos distribuídos na época pelas universidades europeias – como os de Max Kohl, por exemplo –  com fins demonstrativos nas aulas da Academia e que, com a queda de paradigmas, foram ampliando a coleção do Museu da Ciência.

O espólio inclui um fonautógrafo do construtor prussiano Rudolf Koenig (1832-1901), à semelhança dos primeiros aparelhos de registo sonoro do francês Édouard-Léon Scott de Martinville (1817-1879), adquirido pela Universidade a pedido de António dos Santos Viegas (1837-1914), à data Diretor do Gabinete de Física (1880-1911), e constituiu o pretexto para a visita do Vox Media ao piso -1 da Rua Larga; GILBERTO PEREIRA, conservador e restaurador do Museu, abriu-nos as portas e guiou-nos pela casamata de vitrines de precisão acústica.

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Breaking Down the Semantics of Language, An Interview with Maja S. K. Ratkje

Side 1: About the Technique

a. What is the relationship between composition and improvisation?

photo by Ann Iren Ødeby

photo by Ann Iren Ødeby

Besides composing, the performances I have done over the last twenty years using vocals, often with live electronics, and most often in an improvised setting, has also greatly influenced my composing, my methods and thinking about form, timbre, and the aspect of communication. I have also felt, while composing, the challenge of grasping some of that immediacy a performance gives. Over the last years I have combined performance and improvisations more and more with more traditional composing, perhaps starting with the Concerto for Voice which features me as an improvising soloist with an orchestra.

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A Meaningful Meaninglessness. An Interview with Maja Jantar

Side 1: About the Technique

a. Which voice-techniques do you use in your performances? Do you have different modes of reading/ interaction/ improvisation?

mj_2I think the base is not to get hurt, I’ve found that you can do just about anything with your voice as long as you don’t force anything. Of course for some sounds you do use pressure, but the trick is to apply the right amount, and never more than necessary. The core of this comes from classical singing technique, where it is all about the resonances and the support. Both my parents are opera singers and I’ve been bathed in that world since my early childhood. Even though I did decide not to do conservatory I would be signing Mozart aria’s at home (when nobody would be listening) trying to figure out how to make the voice do the things I wanted it to do. I was lucky, and equipped with good genes and good ears, because my voice could really have gotten hurt by the things I did, I had to unlearn a lot of bad habits in the process. It took me years to figure out vocal support, and in fact what helped me most were not the few vocal lessons I got, but a week-long workshop with a French tai-chi master and choreographer, Thierry Bae. It’s there that I understood that support basically is breath, and not something like a muscle that one has to keep tensed in order to make sound. It happens organically.

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Eramo: o gesticular da voz

No âmbito do 1º colóquio Vox Media. O Som na Literatura, realizado no dia 27.11.2015 no Instituto de Estudos Brasileiros da Faculdade de Letras da UC – e do contacto com Alessandra Eramo – artista sonora residente em Berlim – a propósito do seu single de 7” ROARS BANGS BOOMS (2014, Berlin: Corvo Records) resultou esta pequena entrevista realizada por e-mail (23.11.2015):

Alessandra Eramo

Lado 1 | perguntas sobre a técnica

Porquê o vinil?
O vinil tem para mim e para a nossa Editora Corvo Records um significado importante, uma vez que realça o caráter háptico e físico da composição. A nossa editora publica obras de artistas que se debruçam nos seus trabalhos sobre o som e a visualidade. Esta forma de aproximação ao som através da arte visual é uma característica fundamental, dado que tanto eu como Wendelin Büchler, com quem partilho a gestão da Corvo Records, temos como formação de fundo as artes visuais.
Este modo de publicação que liga arte sonora, música experimental e arte visual oferece muitas possibilidades na forma visual do seu lançamento, como se pode observar em “Come ho imparato a volare” [2011]. Para nós, cada publicação é antes de mais um objeto de arte sonoro [Klangkunstobjekt], editado na maior parte das vezes em exemplares limitados e numerados à mão. Os vinis [Schalplatten] portam em si o desafio a uma ação háptica. A audição musical torna-se assim propriamente um acto performativo, um ato poético.

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