(vozes de Nuno Meireles e Mariella Augusta/música de Flávio Villar Fernandes)
Lírica em abismo. Obra interativa: mova o cursor em qualquer direção para perceber o eixo temporal expandido em combinações musicais que contemplam os afetos desses poemas cruzados.
Em Sala Lírica, a música não é ilustração, mas elaboração, o texto cabe lá dentro e é resignificado. Existem alterações da voz em eco, filtro ou em mudanças de interpretação. As palavras passam a habitar outros sentidos. Cada poema em Sala Lírica é uma nova obra.
Voz de Mariella Augusta (investigadora associada ao grupo Vox Media) e música de Flávio Villar Fernandes (ECA-USP e membro honorário da Academia de Música do Brasil).
Vox Lit é o podcast que dá a ouvir a voz das materialidades da literatura. Um desafio entre exploração e divulgação da nossa constelação matliteana.
Vox Lit é uma iniciativa Vox Media com participação ativa de outros estudantes e doutorados do Programa Doutoral FCT em Materialidades da Literatura.
Episódio 3:
carta falada (Elizama Almeida)
Técnica e Utopia (Ana Marques)
Hipoglote (Tiago Schwäbl)
Comprimido de Leitura (Mafalda Lalanda e Elena Soressi)
Vozes de Gil Vicente (Nuno Meireles)
João Villaret (Lisboa, 10 de Maio de 1913 — Lisboa, 21 de Janeiro de 1961), célebre diseur de poesia,ator e encenador português.
O programa “João Villaret – O Domador da Voz” recorda um dos maiores vultos da cultura portuguesa do séc.XX, quando passam 60 anos do seu desaparecimento.
É a última cena do documentário Assombração urbana com Roberto Piva, de Valesca Canabarro Dios (2004). Um zoom inicial muito desfocado apresenta lateralmente algo que reconhecemos como sendo a extremidade dos óculos de Roberto Piva, num plano banhado numa tonalidade azulada e violácea. Piva parece contemplar um filme, de que nos chega apenas o reflexo intenso da luz e o ruído do projetor, convivendo em fundo com a música de Bach que satura todo o primeiro plano do espectro aural. Em seguida, a câmara desloca-se brevemente para esse objeto de contemplação impossível – uma pura e trémula inundação de luz ou, se se preferir, uma pura emulsão de película –, e por fim, após um corte discreto, o plano fixa-se no perfil de Piva, semimergulhado numa treva apenas quebrada pelos reflexos da luz da projeção no seu rosto. Não nos é concedido ver aquilo que Piva contempla, pois nunca acedemos ao contracampo, com exceção da breve exemplificação acima referida: o perfil recortado de Piva é agora o (nosso) ecrã, consoante o tremeluzir da luz do filme no seu rosto. Que filme será esse que Piva contempla e nele se reflete? Vou alimentando algumas hipóteses, que me ajudam a ver a cena, a pensar Piva e a relação da sua poesia com o mundo da história e, antes dela, com o mundo da mente. Creio que preciso delas para acabar de ver o filme e para que esta cena faça sentido para mim. Mas por agora quero concentrar-me nessa imagem do perfil de Roberto Piva vendo no escuro um filme enquanto o ouvimos dizer o extraordinário texto “O século XXI me dará razão”, que reproduzo aqui: