VARIAÇÕES SOBRE ANTÓNIO: Um colóquio em torno de António Variações

VARIAÇÕES SOBRE ANTÓNIO: Um colóquio em torno de António Variações, vai realizar-se na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, nos dias 7 e 8 de Dezembro de 2017.

A Call for papers & performances, bem como toda a informação necessária, pode ser encontrada em antoniovariacoes.wordpress.com.

O Colóquio:

O colóquio propõe-se estudar, quer a obra do compositor e cantor, quer aquilo que nela é sintoma de fenómenos mais vastos – um deles, e dos mais importantes, a forma como a cultura portuguesa posterior à Revolução de 1974 tenta sintonizar-se / dessintonizar-se com o mundo exterior e, em particular, com a cultura e civilização saída dos anos 60, sobretudo aquela latamente designável como pop. O colóquio é uma proposta do Programa de Doutoramento em Materialidades da Literatura, e da área de Estudos Artísticos, ambos da FLUC, e conta, neste momento, com o apoio do Centro de Literatura Portuguesa, do Teatro Académico de Gil Vicente, do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, da Rádio Universidade de Coimbra, e do Jazz ao Centro Clube.

São entidades parceiras do colóquio o projeto Keep It Simple, Make It Fast, coordenado por Paula Guerra, o Núcleo de Estudos em Género e Música, coordenado por Paula Gomes-Ribeiro, e o Projeto Mural Sonoro, coordenado por Soraia Simões. Todas estas entidades estão representadas na Comissão Científica.

O colóquio é pensado sobretudo para as seguintes áreas disciplinares: musicologia, estudos artísticos, estudos literários, estudos intermédia, estudos culturais, ciências sociais, média e comunicação, história contemporânea.

A Comissão Científica do Colóquio é constituída por Adriana Calcanhotto (Artista, Professora convidada na FLUC); Fernando Matos Oliveira (Teatro Académico Gil Vicente); Manuel Portela (Programa de Doutoramento em Materialidades da Literatura); Paula Gomes-Ribeiro (NEGEM – Núcleo de Estudos em Género e Música); Paula Guerra (FLUP, Projeto Make It Fast, Keep It Simple); Paulo Estudante (Área de Estudos Artísticos da FLUC); Sérgio Dias Branco (Área de Estudos Artísticos da FLUC); Soraia Simões (FCSH, Projeto Mural Sonoro), e Stephen Wilson (Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da FLUC).

O colóquio terá ainda uma programação complementar, na área dos concertos, e performances. No primeiro caso, a organização desafiou músicos e bandas da zona de Coimbra para reinventarem a música de Variações, num concerto a ter lugar no TAGV. No que toca à performance, foi produzida uma Call for Performances subordinada ao título «Variações performáticas sobre António», vindo as performances selecionadas a ter lugar na Sala do Carvão – Casa das Caldeiras, e no Salão Brazil.

Contexto:

Com apenas dois LP’s, editados em 1983 (Anjo da Guarda) e 1984 (Dar & Receber), António Variações – nascido em 1944, com o nome de António Joaquim Rodrigues Ribeiro, e falecido em 1984 –, tornou-se um caso de estudo na música popular portuguesa, quer pelo cunho fulgurante do seu impacto, quer pelo rasto duradouro que deixou, manifesto em várias homenagens coletivas em disco, ou ao vivo, num «disco póstumo» (Humanos, 2004) elaborado por um conjunto de músicos portugueses a partir de maquetes de canções suas gravadas em cassetes, ou na importante biografia publicada por Manuela Gonzaga em 2006 (António Variações. Entre Braga e Nova Iorque, Âncora Editora).

A música, as letras das canções, a imagem, os vídeo-clips, tudo isso tem contribuído para que a presença de António Variações na cultura portuguesa não se tenha desvanecido, continuando, pelo contrário, a alimentar a imaginação do público. Tão importante como tudo isso, porém, é o paradigma que Variações representa na cena portuguesa dos anos 80, bem sintetizado pela frase, que terá dito ao produtor do seu primeiro disco, para enunciar o lugar estético em que via a sua música: «Uma coisa entre Braga e Nova Iorque». A frase não sugere um ponto de equilíbrio que seria, aliás, impossível de garantir; pelo contrário, parece enunciar uma pulsão de desequilíbrio ou de fabricação, não garantida por uma estabilidade identitária prévia – seja ela a da «cultura tradicional» ou a do «cosmopolitismo» –, para qualquer projeto de criação de uma versão moderna do popular, neste caso em Portugal. Nesse sentido, o percurso biográfico de Variações (que interioriza o típico percurso de um homem português da segunda metade do século XX, da aldeia à capital, à Guerra Colonial e à emigração) parece pressupor uma demanda, desde as origens minhotas a Lisboa e, depois, a Londres, Amesterdão, Nova Iorque, etc., mas uma demanda de algo que se produz, fabrica e falsifica pelo caminho, sem ceder a qualquer ilusão de um «encontro pleno com a alma» da cultura portuguesa ou do sujeito com as suas «raízes» e com a sua «verdade profunda», também ela objeto de uma encenação queer no limite do kitsch ou do camp, dando assim a ver, em modo espetacular, a identidade como recodificação. E isso é também reconhecível nas extraordinárias letras que Variações escreve para as suas canções, que oscilam entre uma versão fulgurante da poesia popular e a reinvenção literária que o leva a musicar, por exemplo, Fernando Pessoa.

Falar de António Variações é, pois, falar sempre de muito mais do que apenas das suas canções, já que não custa ler na sua obra e na forma como performatiza a sua identidade (pessoal e coletiva) algo que nos ajuda a ler Portugal na segunda metade do século XX, da música e da poesia à cultura, à sociedade e ao estado do «corpo político».

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