Irá ser lançado, no próximo mês de junho, RAPublicar: A micro história que fez história numa Lisboa adiada – 1986-1996, da autoria de Soraia Simões, investigadora associada ao Instituto de História Contemporânea da FCSH e fundadora do Mural Sonoro.
A obra é um dos resultados do projecto RAPortugal 1986-1996, projecto que incide sobre a prática do rap e o impacto da cultura hip-hop no período descrito na sociedade portuguesa e que é constituído por 3 eixos: desde logo a publicação deste livro mas, também, 3 workshops em escolas da periferia de Lisboa, e uma compilação com 10 MC/Rappers contemporâneos que será apresentada em 3 concertos.
RAPublicar…, que parte de recolhas realizadas entre 2012 e 2016, contará com testemunhos de General D, Makkas (Black Company), Francisco Rebelo (Cool Hipnoise, baixista Black Company, Mind da Gap, Boss AC, Ithaka), Marta Dias (cantora, General D&Karapinhas), Maimuna Jalles (cantora, General D&Karapinhas), Tiago Faden e Hernâni Miguel, (produtores da colectânea RAPública (1994), a primeira do género a ser lançada em Portugal), Jazzy (Zona Dread), Jawst e MC Nilton (Lideres da Nova Mensagem), Ace (Mind da Gap), NBC (Filhos de 1 Deus Menor), Janelo Costa (Kussondulola), ou Chullage, entre muitos outros e outras.
Sobre estas conversas, e sobre a obra, refere Soraia Simões
Aqui ao expressar-se, a vários olhares e vozes, uma parte significativa de mudanças discursivas e comportamentais que ocorreram no campo social e no campo cultural, que hoje enformam tantas discussões nos campos científico, jornalístico e, especialmente, no campo cultural e no campo político – sobretudo autárquico, está-se também a contar uma parte da história da cultura e da sociedade contemporânea portuguesa que os teve, quer uns queiram quer outros não, como protagonistas. Os primeiros discursos sobre o território e a experiência transatlântica expressos em forma de canção com amplificação entre as comunidades jovens da minha geração, ainda no fim do liceu ou início da vida universitária nos anos 90, a discriminação social e o racismo, as mudanças operadas na indústria de gravação, a ideia de sociabilização através de uma prática artística sem ligação aos principais centros urbanos de decisão mas onde igualmente se afirma, a vontade de emancipação num espaço cultural e fonográfico onde outras práticas já estavam representadas, a reutilização de expressões das suas culturas originárias que no período colonial estiveram condenadas ao esquecimento, a afirmação da desigualdade de género no campo cultural e artístico que emerge no repertório dos dois grupos de RAP femininos que surgem neste recorte cronológico, a relação com os mass-media e com a sua paulatina aceitação na sociedade portuguesa da segunda metade do século XX, pós-revolução, entre outros, que poderão ler e ouvir
RAPublicar: A micro história que fez história numa Lisboa adiada – 1986-1996, editada pela Editora Caleidoscópio, contará também com uma edição em e-book. As apresentações terão lugar em Lisboa, na Livraria Ler Devagar, dia 6 de junho, e no Porto, na Gato Vadio, dia 16 de junho.